segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vale a pena "Esquissar"




Para qualquer arquitecto, começar a "esquissar" numa folha em branco é sempre um drama, como se de um objecto sagrado se tratasse.



Numa altura em que os computadores e "afins" dominam a nossa sociedade, existe um maior distanciamento entre os "artistas" (só para não melindrar aqueles que defendem que a arquitectura não é uma arte) e a folha de papel.



Esse distanciamento promove uma maior filtragem dos pensamentos, que se reflecte e muito na peça desenhada.



Quando desenhamos "à mão livre" de uma forma mais ou menos "artística", vamos registando vários pensamentos, vários raciocínios, vários pontos de vista, várias hipóteses que nos vão ajudando a encontrar a peça "ideal" (se é que existe). Este processo, obriga-nos a pensar na peça como um todo, obriga-nos a percorrer o seu interior, ou seja, obriga-nos a conhecê-la de uma forma profunda e íntima e não superficial e irreflectida.



Não importa se os outros percebem o que desenhamos, até porque na minha modesta opinião quanto mais despreocupado for o esquisso, mais "artístico" e sincero se revelará. O que importa é se esses desenhos nos ajudam a melhorar e a perceber o objecto arquitectónico. Como diria o Mestre, "é necessário fazer amor com o objecto desenhado" para nos tornarmos íntimos.



Gostaria de realçar que não tenho nada contra os computadores, nem os softwares de 3D, mas sim contra rapidez e "beleza artificial" que os mesmos promovem, principalmente na fase de concepção da peça.



Nesta sociedade global, onde a imagem e o marketing imperam e onde o tempo é dinheiro (ou não), não nos deixam muita margem para reflectir ou para as ideias passarem por um período de maturação.



Há quem diga que a "industrialização dos projectos de arquitectura" é que nos fez chegar a este estado INSUSTENTÁVEL. Outros defendem que todo o mal que a arquitectura sofre é fruto do tão famoso 73/73, ou então que os "malvados" construtores, aliados aos "sedentos" agentes imobiliários é que destruíram a arquitectura com a sua mania de quererem mais em menos tempo e por menos dinheiro (e em menos m2).



Gostaria de ter tantas certezas, mas mais ainda, gostaria de ver todos nós, que intervimos no espaço a fazer uma reflexão descomplexada para tentar perceber onde falhámos e corrigirmos os erros, para que possamos continuar a acreditar que a arquitectura é a mais bela das ARTES.



Acredito que esta crise poderá ser uma fonte de conhecimento, porque vai obrigar-nos a pensar num futuro sustentável e acima de tudo, vai dar-nos tempo para voltar a “esquissar”. Como diria o poeta: "só é possível amarmos o que somos se amarmos o que fazemos".



Gostaria de dedicar este texto ao meu grande amigo Filipe que trocou a sua almofada por um diário gráfico.


Fonte: http://sol.sapo.pt/inicio/galerias/fotogalerias.aspx?page=1&content_id=20086
Para verem que ainda vale a pena "esquissar" visitem a Exposição do Arquitecto Siza Vieira. Vale a pena.

http://www.viva-porto.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2402:siza-vieira-expoe-esquissos-pela-primeira-vez-em-portugal&catid=9:geral&Itemid=12

Bons esquissos para todos